sábado, 16 de maio de 2009

CAETANO VELLOSO

CAETANO VELLOSO

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso, o quinto filho da prole de José Telles Velloso - o Sr. Zezinho - funcionário público do Departamento de Correios e Telégrafos, e de Claudionor Vianna (a Dona Canô), nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano, no dia 7 de agosto de 1942. Desde bem jovem, o menino acompanhava de perto qualquer agrupamento de pessoas que aparecesse com algum tipo de manifestação cultural: de roda de macumba à roda de samba. E, acompanhado ao piano pela irmã Nicinha, aos 10 anos de idade ele já gravava para a família a canção Mãezinha querida.

Caetano morou por um ano no Rio de Janeiro, em 1956, freqüentando rádios, shows e concertos; e, quatro anos depois, mudou-se para Salvador, onde concluiu o curso clássico, ingressando na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia. Naquela época, sofreria influência de certos elementos importantes: as contestações vigentes no meio universitário; o teatro; a bossa nova, tocada por João Gilberto; além da produção cinematográfica, de
Glauber Rocha. Todo esse intenso ambiente cultural ampliaria, ainda mais, o interesse do jovem pelas artes. Ele aprenderia a tocar violão e passaria a se apresentar, com a irmã Maria Bethânia, nos bares de Salvador.

Naquele mesmo período,
Gal Costa, Gilberto Gil e Tom Zé formavam um certo tipo de clubinho, com Caetano e Maria Bethânia. Juntos, eles desempenharam um papel fundamental na evolução da música popular brasileira, ao realizar um espetáculo marcante – Nós, por exemplo – que representou a semente, a partir da qual nasceria o show Tropicália. Ao lado dos quatro companheiros inseparáveis, em 1964, Caetano apresentava o espetáculo, que misturava canções e textos, inaugurando o teatro Vila Velha.

Tal apresentação influenciaria os demais espetáculos produzidos em São Paulo e no Rio de Janeiro, cidade onde Caetano foi morar, em 1965, firmando-se como compositor e participando de vários festivais.

O ano de 1967 marcava, definitivamente, o início da carreira profissional do compositor, com a sua contratação pela gravadora Philips, e o lançamento de seu primeiro disco de grande sucesso: Alegria, Alegria. A música foi classificada em segundo lugar, no III Festival da Música Popular Brasileira (MPB). E, em novembro do mesmo ano, o compositor se casaria com Dedé Gadelha.

Caetano comporia a sua primeira trilha sonora para a peça O boca de ouro, de
Nelson Rodrigues, montada pelo diretor Álvaro Guimarães. Muito satisfeito com o resultado obtido, o diretor o convidaria para produzir uma segunda trilha sonora, desta feita para a peça A exceção e a regra, de Bertold Brecht.

Em setembro de 1968, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, quando cantava a música É proibido proibir, o compositor era vaiado pela platéia que lotava o III Festival Internacional da Canção (FIC) da TV Globo. Ele reagia com um discurso emocionado, afirmando que as pessoas, ali, não estavam entendendo nada. A canção, entretanto, seria desclassificada do Festival.

Com o acirramento da Ditadura Militar e das perseguições políticas, através da edição do Ato Institucional nº 5, Caetano era preso em São Paulo, no dia 27 de dezembro de 1968, sob a acusação de desrespeitar a bandeira brasileira e o hino nacional. Levado para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, ele teve o cabelo raspado. O compositor Gilberto Gil, inclusive, seria preso junto com ele.

Em fevereiro de 1969, Caetano era libertado da prisão, mas ficava proibido de se apresentar ou dar qualquer declaração em público. Em julho do mesmo ano, fazia um espetáculo de despedida com Gilberto Gil, no Teatro Castro Alves, o qual dava origem ao álbum Barra 69, lançado três anos após, e se exilava com a esposa no bairro de Chelsea, em Londres. Gilberto Gil, casado com Sandra Gadelha, cunhada de Caetano, é também exilado no mesmo bairro londrino.

Ao voltar a morar no país, em 1972, Caetano trouxe consigo uma vasta produção artística, e começou a realizar espetáculos musicais e composições para filmes e peças teatrais. Na década de 1980, ele receberia algumas premiações, adquirindo projeção nacional e internacional.

No dia 13 de dezembro de 1983, aos 82 anos de idade, morria o Sr. Zezinho, pai de Caetano. Três anos depois, o ilustre compositor faria duas apresentações no Carnegie Hall, em Nova York; e lançaria um disco pela Nonesuch/Warner. A partir dessa época, então, Caetano seria consagrado como um dos maiores intelectuais e artistas da MPB.

Algumas das músicas compostas por Caetano: De manhã; Cara a cara; Atrás do trio elétrico; Branquinha; Chuva, suor e cerveja; Irene; Lua de São Jorge; Love, love,love; Ela e eu; Flor do cerrado; Gênesis; Maria Bethânia; Menino do Rio; Gente; Força estranha; Cinema Olympia; Etc; Esse cara; Reconvexo; Dama do cassino; Quando; Gema; Quero ficar com você; Genipapo absoluto; Este amor; Muito; Fora de ordem; Dom de iludir; Sol negro; Língua; Superbacana; Os argonautas; Podres poderes; Dama do cassino; Drama; Qualquer coisa; Sorvete; Tenda; Fora de ordem; Eu te amo; Escândalo; Eclipse oculto; e Gatas extraordinárias.

O compositor baiano possui três filhos: Moreno, nascido em 1973, do seu primeiro casamento com Dedé Gadelha; Zeca (1992) e Tom Velloso, frutos da união com a segunda esposa, Paula Lavigne.

Transcreve-se, abaixo, uma das mais lindas músicas de Caetano:

Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração,
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João,
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi,
Da dura poesia concreta de tuas esquinas,
Da deselegância discreta de tuas meninas,
Ainda não havia para mim Rita Lee,
A tua mais completa tradução,
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João.

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto,
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, e mau gosto,
É que Narciso acha feio o que não é espelho,
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho,
Nada do que não era antes quando não somos mutantes,
E foste um difícil começo,
Afasto o que não conheço,
E quem vem de outro sonho feliz de cidade,
Aprende depressa a chamar-te de realidade,
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas,
Da força da grama que ergue e destrói coisas belas,
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas,
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços,
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva,
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulos do samba,
Mas possível novo quilombo de Zumbi,
E os novos baianos passeiam na tua garoa,
E os novos baianos te podem curtir numa boa.

Extremamente criativo e talentoso, Caetano Velloso é poeta, músico, cantor, compositor e diretor, bem como um dos artistas mais completos e célebres da música popular brasileira.


Fontes consultadas:

CAETANO Velloso. Disponível em:
<
http://www.ultramix.com.br/musica/caetanoveloso/index.php> Acesso em: 20 mar. 2005.

CAETANO Velloso. Disponível em:
<
http://www.mundomusical.com.br/literatura1/trovadorismo/trovad_poesia.htm>. Acesso em: 20 mar. 2005.

CAETANO Velloso. Disponível em:
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http://geocities.yahoo.com.br/nadohomepage2/cvcarreira.htm> Acesso em: 20 mar. 2005.

CAETANO Velloso. Disponível em:
<
http://www.artemusical.com.br/index2.htm> Acesso em: 20 mar. 2005.

CAETANO Velloso. Disponível em:
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http://www.gibindex.com/midia/br/46> Acesso em: 20 mar. 2005.

CAETANO Velloso, 60 anos de puro charme. Disponível em:
<
http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG376320.2157,00.html> Acesso em: 1º maio 2005.

CAETANO Velloso. Disponível em:

FONSECA, Herbert. Caetano, esse cara. Rio de Janeiro: Revan, 1993.

GILBERTO Gil. Disponível em:
<
www.gilbertogil.com.br/sec_biografia.php?> Acesso em: 21 maio 2005.

LETRAS de músicas. Disponível em:
<
http://caetanoveloso.letrasdemusicas.com.br/artista.php2id=884> Acesso em: 1º maio 2005.

INDICE geral das musicas no MPBNet. Disponível em:
<
http://www.mpbnet.com.br/textos/geral.html> Acesso em: 1º maio 2005.

MORAES NETO, Geneton. Aviso aos navegantes. In: CALLADO, Antonio et al. Cadernos de Confissões Brasileiras: dez depoimentos, palavra por palavra. Recife: Comunicarte, 1983. p. 11-12.

MORAES NETO, Geneton. Caetano Veloso. Continente Multicultural, Recife, ano 1, n. 1, p. 4-24, jan. 2001.

NAVES, Santuza C. Da bossa nova à tropicália: contenção e excesso na música popular. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n. 43, p. 35-44, jun. 2000.

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